ATRAVESSANDO A CIDADE
Resenhas
O que acontece quando não acontece nada?
Georges Perec obsevou durante três dias a praça Saint-Sulpice, em Paris. A partir da observação do lugar, anotou alguns acontecimentos cotidianos das pessoas, da rua, dos veículos, dos animais, das nuvens, do passar do tempo e etc.
Ele escreveu em listas as coisas que aconteciam, mesmo que as pessoas que estavam lá não as percebessem ou as vissem como insignificantes. Anotou coisas que passavam despercebido, aquilo que os cidadãos não se dão conta ou importância, como por exemplo:
“O vento remove as folhas das árvores.”, “Durante uns segundos se pôde ver um fugaz raio de sol.”, ”Um pombo pousa no extremo superior de um semáforo” e “O céu está cinza. Efêmeros clarões de luz.” (Tentativa de esgotamento de um local parisiense, Georges Perec, 1975.)
Georges Perec concluiu que pequenas coisas podem se tornar grandes coisas, pois seus valores só dependem da importância que damos a elas. E que há grandes acontecimentos, mesmo quando nada está acontecendo.
PEREC, George. Tentativa de esgotamento de um lugar Pariense. Original Tentative d’epuisement d’un lieu parisien, 1975.
KEHL, Maria Rita

Olhar no olho do Outro. Piseagrama.
O texto OLHAR NO OLHO DO OUTRO de Maria Rita Kehl, Psicanalista, poetisa, cronista e jornalista, formada em psicologia pela USP, fala a respeito da relação social nas cidades contemporâneas e da identidade do cidadão como parte da cidade abordando e descrevendo as características e o cotidiano do homem urbano atual, com intuito de questionar os princípios de sociabilidade do leitor e provocar um sentimento de empatia social em um contexto de população narcisista.
Uma cidade é composta por inúmeras pessoas, e cada pessoa vive em uma rotina de contato com outras pessoas, a grande maioria desconhecidas. Para que seja possível haver uma relação saudável entre as pessoas é necessário existir uma identidade do Homem Comum como cidadão, havendo reconhecimento no outro cidadão ou em algum lugar como a si próprio. Porém na cidade de São Paulo, os habitantes perdem a essência de reconhecimento, esquecem de quem são ou de como são os lugares. Por exemplo, a ladeira da memória que foi uma das principais portas de entrada para a cidade e São Paulo e reconhecida por muitos do século XIV, hoje é um simples ponto obscuro da cidade onde milhares de pessoas passam por ela e não fazem idéia do há guardado na memória deste lugar. Um local que virou a residências daqueles que são sobras da cidade, aqueles que um dia foram homens comuns ou não, as pessoas passam e não se olham, todos os dias rostos diferentes mas não se olham, ou seja, não encontram nas outras pessoas uma identidade parecida com a sua, não reconhecem o seu eu dentro de outros, e isso faz com que a relação social seja enfraquecida ao ponto de acharmos normal algumas pessoas serem cidadãos e outras simples sobras da sociedade. Isso arranca qualquer possibilidade de cidadania, pois se sou cidadão e não reconheço o outro como tal, logo não sou cidadão.
“Só a vida urbana nos obriga a conviver com uma multidão de desconhecidos; estamos permanentemente na dependência do contato com pessoas que não escolhemos.’’ (KEHL, Maria Rita, 2015, p.3)
“O homem urbano é o homem comum. Para viver com ele de maneira minimamente solidária é preciso reconhecer que somos, todos nós, tão comuns quanto ele.’’ (KEHL, Maria Rita, 2015, p.3)
“Existe uma cidade recalcada, sim. Cidade das histórias que ninguém contou ou que ficaram esquecidas. Cidade das casas demolidas, da memória destruída, das referências perdidas, evocadas pelos enigmáticos’’ (KEHL, Maria Rita, 2015, p.7)
KEHL, Maria Rita. Olhar no Olho do Outro. Piseagrama. Belo Horizonte, jan. 2015.
Biografia da autora: http://cnv.memoriasreveladas.gov.br/institucional-acesso-informacao/membros/65-maria-rita-kehl.html

PEREC, George
A Construção das cidades segundo seus princípios artísticos
Itália como país modelo de praças medievais e renascentistas, é considerada como a responsável pelo extraordinário efeito harmônico do conjunto em que também neste âmbito conserva a tradição por muito tempo todo originado do estilo medieval. A praça é considerada como um espaço vazio entre quatro ruas sob o ponto de vista artístico, a construção urbana reconhece a parte artística como imprescindível e importante na parte da arte arquitetônica.
Para falar da dimensão e forma das praças se podem classificar por categorias segundo sua largura e profundidade. Esses tipo depende só da posição do observador e da direção de seu olhar. Quando uma praça fica próxima da outra da um contraste positivo dessas praças que seus efeitos contrários se exaltam mutuamente; uma grande e a outra pequena, tendo em conta as construções sendo da mesma proporção. A forma também a dimensão das praças mantem uma relação proporcional com os edifícios que as dominam, embora de uma maneira explícita, mas com certeza nítida.
Para quem se ocupa das construções urbanas, é útil comparar as medidas reais de algumas maiores e menores praças de sua cidade. Uma boa proporção entre dimensão de praça e a dimensão dos edifícios é de primeira importância. Assim como tudo neste âmbito, também essa proporção não pode ser definida com muita precisão, pois está submetida a oscilações frequentes consideráveis. A relação entre edifícios e as praças não pode ser definida com a mesma exatidão com que, por exemplo, os manuais que determinam a relação entre coluna e travejamentos. Porém ainda que aproximada, tal definição é muito importante, sobre tudo para a construção urbana moderna, onde a arbitrariedade da régua substituiu o desenvolvimento histórico gradual. Devido a esta importância das medidas absolutas das praças é que se procurou utilizar quando possível uma escala idêntica para todos os esboços dos planos nesse estudo.
A construção urbana reúne a totalidade mais ampla e diversificada do que a construção de palácios, cujo pode e deve ser bastante livre graças à variedade de motivos passiveis de serem combinados entre si , sem prejuízo para nenhum deles. Hoje se ve uma liberdade muito oportuna na construção de casas de campo e castelos e porque na construção urbana a régua e o compasso seguem normas muito rígidas.
A construção urbana moderna não tem muita sorte com as irregularidades em um planejamento urbano estilo tabuleiro de xadrez, as irregularidades provocadas pela régua dõ como resultado as praças triangulares. O ruim disso é que as linhas de fuga dos edifícios adjacentes se entrechocam de forma constante e grosseira, a única solução e criar toda sorte de pequenos ângulos com partes simétricas e diversas ilhotas fora das linhas de trânsito onde monumentos e estatuas poderiam ser instalados com grande adequação.
SITTE, Camillo. A construção de cidades segundo seus princípios artísticos. Camilo Sitte, 1992.
SITTE, Camilo
